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Circuito da Herança Africana promovido pelo Instituto Pretos Novos

  • cleitonvalquer
  • 18 de ago. de 2023
  • 8 min de leitura

O cricuito é uma iniciativa do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN). Uma breve história da fundação Instituto é descrita em seu site:


Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) foi criado em 13 de maio de 2005, com a missão de pesquisar, estudar, investigar e preservar o patrimônio material e imaterial africano e afro-brasileiro, cuja conservação e proteção seja de interesse público, com ênfase ao sítio histórico e arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, sobretudo com a finalidade de valorizar a memória e identidade cultural brasileira em Diáspora (IPN, 2022).

O circuito tem a finalidade promover a educação patrimonial e possibilitar conhecer a história dos africanos para a construção de uma Memória Social. Destacando os pontos que foram e são de grande importância religiosa, cultural e de memória para a sociedade, evitando o esquecimento.

O Circuito de Herança Africana surgiu a partir deestudos e escavações arqueológicas evidenciando a importância histórica e cultural desta área do Rio de Janeiro. Os pesquisadores do IPN desenvolveram seus estudos que demonstraram a importância de oficinas para transmitir os conhecimentos acerca das descobertas sobre a Diáspora Africana e formação da Sociedade brasileira como apresenta a descrição do projeto no site do IPN:

Estes vários achados arqueológicos possibilitam uma melhor compreensão do processo da Diáspora Africana e da formação da sociedade brasileira, e por isso, motivaram a criação, pelo Decreto Municipal nº 34.803 de 29 de novembro de 2011, do Circuito e do Grupo de Trabalho Curatorial do Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana, para construir coletivamente políticas de valorização da memória e proteção deste patrimônio cultural (IPN, [2022]).

A partir da criação de um projeto sobre o Circuito de Herança Africana, onde se visita os monumentos que recontam o passado, estes podem ser vistos como materiais da memória como aponta Le Goff (1996, p.1) “o monumentum é um sinal do passado. Atendendo às origens filológicas, o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação”. Nessa perspectiva de visitar os monumentos para evocar o passado, o Circuito de Herança Africana incube de ser o caminho para conhecer e perpetuar essa lembrança na sociedade brasileira para construir uma memória social.


Largo da Prainha


É um ponto histórico-cultural dentro da discussão de herança africana, sempre foi uma região de grande circulação de escravos, ex-escravos, escravos de ganho, libertos e negros que trabalhavam na estiva. O largo antigamente era uma prainha antes do corte da Pedra de sal. O largo se chama de São Francisco, pois está localizado ao lado da Igreja de São Francisco da Prainha.

Ao decorrer dos anos, o bairro da Saúde passou por urbanização, foi perdendo algumas ruas para a Gamboa e se tornou o menor bairro do Rio de Janeiro. O bairro foi denominado Saúde por causa da Igreja da Nossa Senhora da Saúde. Próximo ao século XIX, não havia encanamento nem tratamento de esgoto, acarretando o surgimento de doenças e recebendo o nome de “Cidade da Morte” pelos viajantes. Na cultura, surge o bloco de carnaval “Escravos do Abalá”, de 1992 a 1993 composto por funcionários do Instituto Nacional de Tecnologia.

A estátua de Mercedes Baptista, representa a primeira dançaria e mulher negra, tornando a ser primeira dançarina clássica a trazer a técnica da dança Afro para o Brasil, onde se envolveu e dedicou ao desenvolvimento das pesquisas da dança afro e, também fundou uma companhia de bailarinos negros. Foi a primeira bailarina aprovada no processo seletivo para bailarinos clássicos do teatro municipal. E viveu durante esse período nos Estados Unidos e na Europa onde ensinou a técnica da dança afro no exterior, natural da cidade de Campos na cidade ao norte Fluminense do estado. Faleceu no ano de 2014, com 94 anos de idade. Abaixo pode ser observada a estátua de Mercedes Baptista (Imagem 2).

Imagem 1- Estátua de Mercedes Baptista



Fonte: autoria própria, 2022.

Os casarios de janelas e portas azuis na região são um tipo de casa comercial que se chamava casas de zumgu, eram casas onde comercializavam o prato angú, nessa localidade havia uma grande população negra que possuía pouco poder aquisitivo. Também funcionava como local de refúgio para os escravos fugidos. Um quilombo denominado Hidra de Iguaçu, que se localizava onde hoje é a cidade Nova Iguaçu, acontecia que toda vez que sofreu uma batida se mudava e parecia que o quilombo crescia para as autoridades.


Igreja São Francisco da Prainha


A Igreja São Francisco da Prainha é datada do final do século XVII, em Barroco-Jesuítico, o fundador foi Francisco da Motta que herdou as terras e construiu a igreja. Antes do falecimento, transfere a propriedade para a Ordem São Francisco da Penitência. Abaixo pode ser observada a Igreja de São Francisco da Mota (Imagem 3).


Imagem 2- Igreja de São Francisco da Prainha



Fonte: autoria própria, 2022.

Escola Padre Francisco da Mota

No segundo andar da Igreja funcionava uma escola, contudo, foi aumentando o número de alunos e necessitou a expansão da escola. A formação da escola era inicialmente até o fundamental. No anexo criou uma extensão da escola para o ensino médio, denominada Soja Kill, em homenagem à filha do filantropo da construção da escola.


Pedra do Sal

A pedra do sal ou pedra do açúcar, possui degraus que foram talhados a mão. A pedra do sal sofreu um corte, pois passava pela Sacadura Cabral. O local funcionava como ponto de encontro para religiões de matriz africanas, sendo um local de manifestações religiosas; berço do samba, que surgiu no início do século passado. O restaurante funcionava como alojamento, um ponto de imigrantes regionais. Abaixo pode ser observada a imagem da Pedra de Sal (Imagem 4).

Imagem 3- Pedra do Sal



Fonte: autoria própria, 2022

Morro da Favela

Os militares são convocados para Canudos e, quando retornam, cobram o governo pelas promessas e não cumprem. Dessa forma, os militares se posicionaram no morro em frente ao palácio Duque de Caxias, aguardando uma providência e encontraram uma planta que chamava favela, e se deu o nome do morro da favela e morro da providência.


Jardim Suspenso do Valongo


Ao longo do Camerino havia lojas de venda de escravos. A praça dos Estivadores, onde ficava o sindicato dos estivadores. A contenção de encostas, o embelezamento e o apagamento da memória da existência de lojas de vendas de escravos na época da urbanização da cidade por Pereira Passos. “Cada visita é uma reescrita da memória”. Abaixo pode ser observada a imagem do Jardim Suspenso do Valongo (Imagem 5).

Imagem 4- Jardim Suspenso do Valongo



Fonte: autoria própria, 2022.

Cais do Valongo


Em 1811 cria o primeiro Cais do Valongo, o segundo é o Cais da Imperatriz, o primeiro apagamento de memória, a urbanização da cidade por Pereiras Passos, o segundo apagamento da memória. Havia o desembarque de africanos escravizados no Cais do Valongo (Imagem 6).

Imagem 5- Cais do Valongo



Fonte: IPHAN, 2022.

Em 2011 e 2012 houve a descoberta do sítio arqueológico do Cais do Valongo. Iniciou o processo para se tornar um Patrimônio Mundial da UNESCO, os pesquisadores fizeram um dossiê e enviaram para a UNESCO e se tornou Patrimônio Mundial da UNESCO.


Praça da Harmonia/ Praça Coronel Assunção


Havia um mercado de peixes que atendia o excedente de clientes da praça XV, nele havia uma banca de peixes chamado Peixes da Harmonia.


Revolta da Vacina


Foi um motim popular ocorrido entre 10 e 16 de novembro de 1904 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Seu pretexto imediato foi uma lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, mas também é associada a causas mais profundas, como as reformas urbanas que estavam sendo realizadas pelo prefeito Pereira Passos e as campanhas de saneamento lideradas pelo médico Oswaldo Cruz.


Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos


A casa foi comprada em 1996, onde houve uma série de obras durante a construção começou a encontrar uma série de ossos. A dona da casa contatou arqueólogos e historiadores, a fim de descobrir mais informações sobre os ossos, e após as análises o resultado foi que eram ossos humanos. A partir desse momento começou a construção do Instituto Pretos Novos. Foi realizada uma pesquisa que revelou o Cemitérios dos Pretos Novos, o termo preto novo, tem relação com a chegada ao Rio de Janeiro dos africanos escravizados e o falecimento pouco tempo depois. Abaixo pode ser observada a imagens abaixo do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (Imagem 6).


Imagem 6- Exposição no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos



Fonte: RioTur, 2022.


Há dois níveis no cemitério dos Pretos Novos, ossadas mais fragmentadas e menos fragmentadas. Havia uma estrutura escravista, na qual possuía uma estimativa de perda de carga. Dentro dessa estrutura da escravidão, havia o desembarque, envio para o Hospital do Lazareto e o Cemitério dos Pretos Novos. Não havia preocupação com os enterros dos africanos escravizados, durante as escavações foram encontrados espinhas de peixe e ossos de galinha que evidenciam o descaso com os enterros.

No Cemitério dos Pretos Novos, podemos observar que é uma da iniciativa para tornar em um Ponto de Memória, articulando-se com ideias de transformação social que viriam pelo fortalecimento de identidade associados a uma comunidade. Dessa forma, podemos pensar em uma reivindicação de uma memória como pontua Ferreira:


São reivindicações memoriais, impulsionando ou não buscas identitárias ancoradas num passado comum, as políticas de memória no Brasil contemporâneo assumem por vezes o caráter de “dever de memória”, pautando em tentativas de reparação de erros historicamente atestados como é o caso da demarcação de terras indígenas e quilombolas (2011, p. 102).

Assim, o Circuito de Herança Africana é um ato de reivindicar a memória de um povo, como um “dever de memória”. Nesse movimento, observa o Cemitério dos Pretos Novos que compõe esse circuito, como um lugar de memória que pode ser definido de acordo com Nora:


Os lugares de memória são antes de tudo restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela ignora. Sendo esta a [memória] que secreta, veste, estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artifício e pela vontade uma coletividade fundamentalmente envolvida em sua transformação e sua renovação (1993, p.13).

Evidencia a importância do Instituto de Memória dos Pretos Novos para a construção da memória social como um lugar de memória e a construção do Circuito de Herança Africana como pontos de memória.


  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Circuíto de Herança Africana demonstrou a importância dos materiais de memória como os monumentos para recordar o passado e evitar o esquecimento, como os lugares de memória para apoio da memória pública, como pontua Pollak (1992, p. 203) “Na memória mais pública, nos aspectos mais públicos pode haver lugares de apoio da memória, ou período como monumento aos mortos”. E importância da Instituição para o desenvolvimento científico acerca dos estudos relacionados a temas africanos, perfazendo, em um instituto onde produz conhecimento e propaga a informação para todos os âmbitos da educação e fazendo conhecer os patrimônios do Rio de Janeiro.

Portanto, a memória é construída a partir dessas lembranças, com objetivo de possibilitar a construção da identidade, partindo de um lugar de memória e dos monumentos e a formação de um circuito para a manutenção da memória da nossa sociedade, a Memória da Herança Africana.

Conclui-se que, o circuito nos possibilitou conhecer as disputas de memória na sociedade em torno da memória da Ancestralidade Africana e como ocorrem as etapas do esquecimento e a rememoração das lembranças dos povos africanos escravizados, contribuindo para formação da identidade dos grupos sociais.


REFERÊNCIAS


FERREIRA, Maria Leticia Mazzucchi. Políticas da memória e políticas do esquecimento. Aurora., n. 10, p. 102-102, 2011. Disponível em: < https://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/article/view/4500/3477>. Acesso em: 16 jun. 2023.


LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: ENCICLOPÉDIA Einaudi : Memória-História, v. 1. Ed. Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984. p. 95-106.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Proj. História, São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez. 1993. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/viewFile/12101/8763. Acesso em: 16 jun. 2023.


POLLAK, Michel. Memória e identidade social. Estudos Históricos, v. 5, n. 10, p. 200-212, 1992.Disponível em: http://www.pgedf.ufpr.br/memoria%20e%20identidadesocial%20A%20capraro%202.pdf. Acesso em: 16 jun. 2023.


QUEM somos. Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), 2022. Disponível em:<https://pretosnovos.com.br/ipn/>


 
 
 

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